Pode parecer meio absurdo o título aí em cima, mas sempre percebo
uma relação direta entre aquilo que vivemos internamente e todo nosso entorno.
Todo mundo já deve ter visto aqueles programas de organização de
casas de acumuladores, né? Pois é, nesses casos é muito fácil ver o quanto as
pessoas que acumulam o fazem por motivos emocionais. Sempre tem uma perda não
elaborada, uma tristeza não localizada ou uma vida que perdeu o rumo. Nesses
casos é muito fácil, porque a "bagunça" interna e externa são
gritantes. O acumulador compulsivo é facilmente detectado porque a bagunça é
muito clara.
Mas e a bagunça que não é visível?
Pois é dela que quero falar hoje.
Eu já falei antes que não me considero uma gastadora compulsiva,
mas que tenho tido, ao longo da vida, alguns momentos de deslize. O que
acontece comigo não é diferente do que ocorre com muitas pessoas mas tenho
percebido um certo padrão no meu comportamento.
Percebo, por exemplo, que quando estou mais triste, começo a
projetar muitas mudanças na casa, grandes reformas e reorganização dos espaços.
E com isso vem um desejo, quase que incontrolável, de comprar coisas novas para
a casa.
Nos últimos meses tenho me sentido mais triste, menos animada com
a vida que tenho. Apesar de estar tudo correndo bem, sinto uma tristeza enorme.
Por enquanto isso acontece em apenas alguns momentos e sinto que preciso me
cuidar logo, para que não fique mais grave (mas isso é outra história).
Nesses momentos sou tomada por um desejo ambivalente, ora quero ficar
quietinha, sem fazer nada, ora quero mudar tudo. E tudo inclui minha casa, uma
parte importante de quem sou.
No início deste ano resolvi mudar o quarto do filhote, até aí tudo
bem, porque ele já vai fazer 3 anos e eu não mexi em nada do quarto desde que
ele nasceu, com isso, ficamos com um quarto de bebê até aqui. Mas junto com
esse desejo (e até necessidade) de mudança, em tempos "normais" viria
também uma vasta organização financeira, para que não gastasse além do
programado e com isso não me endividar.
O que foi acontecendo pode parecer normal aos olhos de outros, mas
já acende aquela luzinha amarela, sabe? Comecei comprando o armário do quarto,
parcelando em 6X, mas antes que isso fosse quitado, já comprei uma cama
bacana.
Nesse ínterim veio a necessidade de trocar de carro e isso era uma
necessidade mesmo, já que o meu começou a apresentar uma série de problemas e
consequentes gastos. Comprei um novo carro em abril/maio e as dívidas
aumentaram.
A gota d'agua porém, veio agora em junho, neste final de
semana. Após passar duas semanas organizando minhas finanças para que quitasse
todas essas dívidas até o final do ano, sem maiores dificuldades, fui ao
shopping com o filhote e comprei um tênis caro para ele (podia esperar!) e
roupas de cama novas para mim e para ele. Eu fui me empolgando com as
comprinhas, mesmo sabendo que aquilo era compulsivo e desnecessário no momento.
A medida em que ia escolhendo as peças, me sentia mais alegre por saber que
nossos quartos ficariam lindos e minha vida mais
feliz...
Esse foi o sinal de que estou mesmo tentando me compensar por algo
que não está bem em minha vida. Comprar um edredom me fez ter, por alguns
minutos, uma vida mais feliz.
Pode parecer bobo e você pode estar pensando: "mas foi só um
edredom!", mas não se trata apenas disso. Eu comprei edredons que estariam
na promoção daqui a dois meses, no mesmo período em que quitaria outras dívidas
e com isso poderia comprar tranquilamente.
Olhando agora para o meu lindo edredom e para a minha vida
não tão linda, percebo que preciso cuidar das minhas emoções, do meu sofrimento
com coisas que não consigo mudar e daquilo que tenho e que é mais importante do
que tudo nessa vida: meu filho, meu trabalho e minha casa.
Preciso me cuidar porque hoje são apenas edredons, mas podem ser
outras e outras coisas e isso, realmente não tem fim, a menos que eu possa
cuidar para que as relações significativas estejam no lugar mais importante e
que as coisas sejam apenas isso.
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