quinta-feira, 29 de junho de 2017

O faça-você-mesmo como estilo de vida

Um dia, lá nos anos 80, eu tomei uma decisão muito importante... resolvi que seria uma pessoa independente pelo resto da vida. Naquela mesma década decidi como seria isso (pelo menos como eu compreendia isso aos 15 anos). Então arregacei as mangas, arrumei um trabalho e fui estudar a noite. Demorei muitos anos apenas nesse primeiro e importante passo: comecei a ganhar meu dinheiro, assumir minhas contas e adquiri uma certa autonomia. Comprei meu primeiro apartamento aos 23 anos (junto com meu então noivo e depois marido). Pra quem conhece a realidade de quem vive na periferia, sabe que isso foi um enorme feito.
A partir daí minha autonomia foi só aumentando. Quando me casei, nunca tinha feito uma refeição completa e só tinha feito uns ensaios de cozinhar. Não tinha ainda aprendido a ligar uma máquina de lavar e o ferro de passar então, eu não tinha ideia de para que servia! Fui aprendendo passo a passo, com meus erros e alguns raros acertos. Como na época eu era casada com um cara que já havia morado sozinho, isso foi facilitado, mas mesmo assim, não foi fácil aprender tudo isso assim de uma hora para outra.
Na época eu já me interessava por decoração e DIY, embora a gente não tivesse esse mundo maravilhoso da internet, já haviam algumas revistas que ensinavam a fazer algumas coisas. Fui desenvolvendo a ideia de que a gente só terceirizaria aquilo que não conseguisse fazer. Primeiro (e até hoje) arrumei alguém para passar roupa, porque simplesmente não me entendo com o ferro.
Cuidar da casa, fazer pequenos reparos foram se tornando parte natural da rotina.
Ao longo desses anos, tendo morado em pelo menos 5 endereços diferentes, eu só contratei pintor uma única vez e só porque estava grávida. Sempre fiz eu mesma, ou com ajuda dos maridos, ou simplesmente sozinha, como fiz agora. Consertar uma tomada, o chuveiro ou um móvel, pode ser feito por qualquer um com um pouco de habilidade e disposição para tentar. Não me sinto acima da média ou qualquer coisa assim, apenas aprendi a "fuçar", a tentar entender como funciona a coisa e a ver se consigo dar conta.
Muitos anos depois me dei conta de um aspecto incrível dessa escolha... fui desenvolvendo uma autonomia em relação às mais diversas coisas da vida. Hoje, se eu decido ficar sem faxineira, sei faxinar. Se decido trocar as tomadas ou as torneiras, eu me informo com alguém que saiba fazer e faço. Estou há 3 semanas pintando a casa. Até tive alguma ajuda, mas fiz boa parte do trabalho eu mesma. Hoje estou aqui, reformando um móvel.
Isso não quer dizer que eu não precise de ninguém, muito pelo contrário. Conto com as pessoas, peço ajuda quando preciso (e sempre preciso dos amigos, da família...).
É legal poder admitir que preciso das pessoas, mas que a vida não desmorona se não tiver ajuda.
Aprendi também a valorizar meu dinheiro e meu tempo. Se preciso de um serviço que alguém faria em 3 horas e eu demoraria 2 dias e se tenho grana para pagar por isso, pago sem o menor problema. Mas, se estou com tempo e posso economizar uma grana para gastar com outras coisas mais legais, porque não tentar?
Acredito que a gente não possa ficar refém de uma ideologia ou de um estilo de vida. O barato da vida é colocar as coisas na balança e ver o que mais vale a pena naquele momento. Outro dia fui ao cabeleireiro para pintar o cabelo, coisa que eu sempre fiz sozinha, mas naquele dia estava cansada, havia trabalhado muito na casa e me dei esse presente, de ficar tranquilona, enquanto alguém cuidava da cabeleira.
Enfim, tenho buscado coerência nas minhas escolhas e estou feliz por estar alcançando esse amadurecimento.